Pr. Silas, a paz do Senhor. Fiz este texto depois de ter assistido seu video Resposta do Pr. Silas à nota do Conselho Federal de Psicologia¹. Não sei se lês todos esses comentários,
mas queria esclarecer certos aspectos de sua fala. Acho bastante interessante
seu empenho de pesquisar, mas há a necessidade de ressalvas.
1. O senhor comenta que “O CFP (Conselho Federal de
Psicologia) proíbe que um psicólogo ajude um homossexual que quer se reorientado”.
O CFP não proíbe isso. A ajuda é
oferecida, esse é o oficio do psicólogo. Mas há de se esclarecer certos
aspectos nebulosos de vossa afirmação. Primeiramente, que ajuda seria essa? O
pressuposto de que a única ajuda que pode ser dada a um homossexual que quer ser reorientado seja a reorientação, está equivocado.
Varias ajudas podem ser oferecidas, mas nossa classe não acredita que a
reorientação, em si, seja uma ajuda. Podemos
encontrar em vários estudos de caso e artigos acadêmicos que grande parte das
pessoas que procuram ajuda para reorientar sua sexualidade, sofrem de questões
externas e não internas. O que quero dizer com isso é que, o sofrimento do
homossexual se dá pela pressão de motivos externos tais como desvantagens
sociais, como diz o próprio Freud. É bom deixar-se esclarecido que o que o CFP
proíbe é o oferecimento de tratamentos que não existem e que, visto os estudos,
a tentativa de aplicar estes “tratamentos” não são eficazes e podem causar sérios
danos psíquicos nos pacientes. Mas o conselho, hora alguma, proíbe a ajuda e a
escuta a qualquer que seja a pessoa. Seja homossexual, pastor ou vendedor de
carros.
O pastor afirma que, “Nenhuma sociedade de psicologia do
mundo proíbe que um gay, por livre desejo de querer ser reorientado, procure um
psicólogo”. Exatamente, como expliquei,
nem o nosso conselho o faz. O que não oferecemos é a reorientação em si, por
entendermos que não será ajuda. Seria o mesmo que oferecer cura para um evangélico
que quer deixar a igreja, mas tem medo do castigo divino. Não podemos oferecer
esse tratamento de reorientação religiosa, mas podemos receber essa problemática
e trabalhar junto com o cliente. Não para reorienta-lo, mas sim para, junto com
ele, entendermos a situação de um modo amplo e encontrar novos caminhos para
sua existência.
2. O caso de Freud que o senhor cita é bem esclarecido pelo
Mestre Doutor Adriano Machado Facioli. No vídeo ele deixa bem claro que Freud, desaconselha
qualquer tentativa de reorientação sexual, por não ser eficaz. Entendo que o vídeo
seja suficientemente esclarecedor para este ponto.²
3. O pastor afirma que, “Ninguém nasce homossexual”. Eu concordo quase que completamente com
esta vossa colocação. Com algumas ressalvas. A primeira é que eu tenho minhas
duvidas nessa dicotomia fechada “Nasce Homossexual X Não nasce homossexual”. A
orientação sexual é muito mais ampla que homossexual e a heterossexual. A
pluralidade sexual é tão grande, que acredito que os motivos sejam tão plurais
quanto. Acredito que pode-se ser motivos genéticos em uns, motivos intrauterino
em outros, vivencias sociais em outros tantos. Ou seja, não acredito que exista
apenas um motivo pra alguém ser hetero ou homossexual. Mas deixemos isso de
lado um momento.
Não nascemos de azul, não nascemos sabendo como um homem se
veste, não nascemos com medo, com amor, enfim, não nascemos neuróticos. Mas
nada disto, nós “escolhemos”. Existem outras situações na nossa vida que atropelam
nossas superficiais escolhas. São desejos que não passam pelo crivo de nossa própria
eleição. Acreditamos que uma deles é a homossexualidade. Ninguém, seja
homossexual, heterossexual ou qualquer outra sexualidade, escolheu ser o que é.
Não há na nossa historia, ou memoria, um momento em que paramos e escolhemos o
que vamos ser.
O que talvez podemos nos esforçar a “escolher” é conter
esses desejos. A pessoa pode ser homossexual e não ter nenhuma relação com
outro homem, mas isso não vai mudar sua orientação sexual. É como um cristão
antes de se casar. Ele escolhe não fazer sexo com nenhuma mulher, mas isso não
o desqualifica como heterossexual. Escolher não praticar um ato sexual, não é
mudar sua orientação sexual. E isso não é saudável. Pode ser saudável para o evangélico,
que celibata até o casamento, mas pra pessoas de outras crenças e que vão
precisar celibatar obrigatoriamente o resto da vida, por imposição externa, é um martírio.
Então, afirmar que “ninguém nasce homossexual” é uma
afirmação vazia num discurso que pretende colocar a homossexualidade como uma escolha
deliberada do sujeito. Não é um simples comportamento, como o senhor tanto ressalta.
Digo isso exatamente porque, se um homossexual “escolhe” não deitar com outros
homens, ele não deixara de ser homossexual. A homossexualidade é um desejo pelo
mesmo sexo e não a simples pratica. Exatamente por isso, nós cientistas, tentamos
mudar o termo para homoafetividade. Porque não se trata apenas do ato sexual
isoladamente. Mas sim o desejo pelo mesmo sexo e não escolhemos nossos desejos.
¹- Resposta do Pr. Silas à nota do Conselho Federal de Psicologia http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ARaN9li8WQ8#at=137
²- Video do Mestre Doutor Adriano Machado Facioli http://www.youtube.com/watch?v=r6vwCJqFeI4&feature=youtu.be
Apêndice.
Resolvi escrever esse apêndice pra esclarecer um sério equivoco cometido diversas vezes.
¹- Resposta do Pr. Silas à nota do Conselho Federal de Psicologia http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ARaN9li8WQ8#at=137
²- Video do Mestre Doutor Adriano Machado Facioli http://www.youtube.com/watch?v=r6vwCJqFeI4&feature=youtu.be
Apêndice.
Resolvi escrever esse apêndice pra esclarecer um sério equivoco cometido diversas vezes.
Didaticamente dividimos a “sexualidade” humana em três
vertentes. Gênero biológico, orientação sexual e identidade de gênero. Não
entender bem essas três instancias, faz-nos cometer drásticos erros e equívocos
nessa temática.
Gênero biológico é o “sexo” do individuo. Normalmente sendo macho ou fêmea, homem ou mulher. Existem diversos outras possibilidades, como intersexo, etc. Mas o gênero biológico é, a grosso modo, se a pessoa tem vagina ou pênis e os demais órgãos de cada gênero.
Orientação sexual é para onde desejo sexual do individuo o impele. Se um individuo deseja o mesmo sexo, se deseja o sexo oposto, se deseja os dois, ou nenhum. É nesta questão que dividimos as pessoas em homossexual, heterossexual, bissexual ou assexuada. E isso independe do gênero biológico do individuo. Neste caso, o gênero biológico só serve como referencia e não como determinante da orientação, do desejo sexual.
Identidade de gênero é uma construção social. É o que nós, como civilização, decidimos como sendo de “homem” e sendo de “mulher”. É essa construção que nós faz saber o que é um homem e o que é uma mulher. Construindo isso podemos dizer quando uma mulher estar se comportando como homem, por exemplo. São os parâmetros que construímos de masculino e feminino.
Estas três instancias, por mais intricadas e absolutamente conectadas no individuo, funcionam independentes uma da outra. O que quero dizer com isso é que, uma pessoa que nasce macho, pode se identificar como masculino e pode gostar do sexo oposto. Como também pode acontecer de uma pessoa nascer macho, se identificar como feminino e gostar do sexo oposto. Ou uma pessoa nascer fêmea, se identificar como feminina e gostar do sexo oposto.
As organizações são quase infindas, principalmente se considerarmos que existem mais possibilidades do que as que eu citei aqui.
Atenciosamente, Cayo César dos Santos Gomes.
Recife, 18 de fevereiro de 2013
Que a paz esteja conosco.