segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Esclarecimentos e ressalvas.


Pr. Silas, a paz do Senhor. Fiz este texto depois de ter assistido seu video Resposta do Pr. Silas à nota do Conselho Federal de Psicologia¹. Não sei se lês todos esses comentários, mas queria esclarecer certos aspectos de sua fala. Acho bastante interessante seu empenho de pesquisar, mas há a necessidade de ressalvas.

1. O senhor comenta que “O CFP (Conselho Federal de Psicologia) proíbe que um psicólogo ajude um homossexual que quer se reorientado”.
O CFP não proíbe isso. A ajuda é oferecida, esse é o oficio do psicólogo. Mas há de se esclarecer certos aspectos nebulosos de vossa afirmação. Primeiramente, que ajuda seria essa? O pressuposto de que a única ajuda que pode ser dada a um homossexual que quer ser reorientado seja a reorientação, está equivocado. Varias ajudas podem ser oferecidas, mas nossa classe não acredita que a reorientação, em si, seja uma ajuda.  Podemos encontrar em vários estudos de caso e artigos acadêmicos que grande parte das pessoas que procuram ajuda para reorientar sua sexualidade, sofrem de questões externas e não internas. O que quero dizer com isso é que, o sofrimento do homossexual se dá pela pressão de motivos externos tais como desvantagens sociais, como diz o próprio Freud. É bom deixar-se esclarecido que o que o CFP proíbe é o oferecimento de tratamentos que não existem e que, visto os estudos, a tentativa de aplicar estes “tratamentos” não são eficazes e podem causar sérios danos psíquicos nos pacientes. Mas o conselho, hora alguma, proíbe a ajuda e a escuta a qualquer que seja a pessoa. Seja homossexual, pastor ou vendedor de carros.
O pastor afirma que, “Nenhuma sociedade de psicologia do mundo proíbe que um gay, por livre desejo de querer ser reorientado, procure um psicólogo”.  Exatamente, como expliquei, nem o nosso conselho o faz. O que não oferecemos é a reorientação em si, por entendermos que não será ajuda. Seria o mesmo que oferecer cura para um evangélico que quer deixar a igreja, mas tem medo do castigo divino. Não podemos oferecer esse tratamento de reorientação religiosa, mas podemos receber essa problemática e trabalhar junto com o cliente. Não para reorienta-lo, mas sim para, junto com ele, entendermos a situação de um modo amplo e encontrar novos caminhos para sua existência.

2. O caso de Freud que o senhor cita é bem esclarecido pelo Mestre Doutor Adriano Machado Facioli. No vídeo ele deixa bem claro que Freud, desaconselha qualquer tentativa de reorientação sexual, por não ser eficaz. Entendo que o vídeo seja suficientemente esclarecedor para este ponto.²

3. O pastor afirma que, “Ninguém nasce homossexual”. Eu concordo quase que completamente com esta vossa colocação. Com algumas ressalvas. A primeira é que eu tenho minhas duvidas nessa dicotomia fechada “Nasce Homossexual X Não nasce homossexual”. A orientação sexual é muito mais ampla que homossexual e a heterossexual. A pluralidade sexual é tão grande, que acredito que os motivos sejam tão plurais quanto. Acredito que pode-se ser motivos genéticos em uns, motivos intrauterino em outros, vivencias sociais em outros tantos. Ou seja, não acredito que exista apenas um motivo pra alguém ser hetero ou homossexual. Mas deixemos isso de lado um momento.
Não nascemos de azul, não nascemos sabendo como um homem se veste, não nascemos com medo, com amor, enfim, não nascemos neuróticos. Mas nada disto, nós “escolhemos”. Existem outras situações na nossa vida que atropelam nossas superficiais escolhas. São desejos que não passam pelo crivo de nossa própria eleição. Acreditamos que uma deles é a homossexualidade. Ninguém, seja homossexual, heterossexual ou qualquer outra sexualidade, escolheu ser o que é. Não há na nossa historia, ou memoria, um momento em que paramos e escolhemos o que vamos ser.
O que talvez podemos nos esforçar a “escolher” é conter esses desejos. A pessoa pode ser homossexual e não ter nenhuma relação com outro homem, mas isso não vai mudar sua orientação sexual. É como um cristão antes de se casar. Ele escolhe não fazer sexo com nenhuma mulher, mas isso não o desqualifica como heterossexual. Escolher não praticar um ato sexual, não é mudar sua orientação sexual. E isso não é saudável. Pode ser saudável para o evangélico, que celibata até o casamento, mas pra pessoas de outras crenças e que vão precisar celibatar obrigatoriamente o resto da vida, por imposição externa,  é um martírio. 
Então, afirmar que “ninguém nasce homossexual” é uma afirmação vazia num discurso que pretende colocar a homossexualidade como uma escolha deliberada do sujeito. Não é um simples comportamento, como o senhor tanto ressalta. Digo isso exatamente porque, se um homossexual “escolhe” não deitar com outros homens, ele não deixara de ser homossexual. A homossexualidade é um desejo pelo mesmo sexo e não a simples pratica. Exatamente por isso, nós cientistas, tentamos mudar o termo para homoafetividade. Porque não se trata apenas do ato sexual isoladamente. Mas sim o desejo pelo mesmo sexo e não escolhemos nossos desejos.


¹- Resposta do Pr. Silas à nota do Conselho Federal de Psicologia http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ARaN9li8WQ8#at=137

²- Video do Mestre Doutor Adriano Machado Facioli http://www.youtube.com/watch?v=r6vwCJqFeI4&feature=youtu.be


Apêndice.

Resolvi escrever esse apêndice pra esclarecer um sério equivoco cometido diversas vezes.
Didaticamente dividimos a “sexualidade” humana em três vertentes. Gênero biológico, orientação sexual e identidade de gênero. Não entender bem essas três instancias, faz-nos cometer drásticos erros e equívocos nessa temática.

Gênero biológico é o “sexo” do individuo. Normalmente sendo macho ou fêmea, homem ou mulher. Existem diversos outras possibilidades, como intersexo, etc. Mas o gênero biológico é, a grosso modo,  se a pessoa tem vagina ou pênis e os demais órgãos de cada gênero.

Orientação sexual é para onde desejo sexual do individuo o impele. Se um individuo deseja o mesmo sexo, se deseja o sexo oposto, se deseja os dois, ou nenhum. É nesta questão que dividimos as pessoas em homossexual, heterossexual, bissexual ou assexuada. E isso independe do gênero biológico do individuo. Neste caso, o gênero biológico só serve como referencia e não como determinante da orientação, do desejo sexual.

Identidade de gênero é uma construção social. É o que nós, como civilização, decidimos como sendo de “homem” e sendo de “mulher”. É essa construção que nós faz saber o que é um homem e o que é uma mulher. Construindo isso podemos dizer quando uma mulher estar se comportando como homem, por exemplo. São os parâmetros que construímos de masculino e feminino.

Estas três instancias, por mais intricadas e absolutamente conectadas no individuo, funcionam independentes uma da outra. O que quero dizer com isso é que, uma pessoa que nasce macho, pode se identificar como masculino e pode gostar do sexo oposto. Como também pode acontecer de uma pessoa nascer macho, se identificar como feminino e gostar do sexo oposto. Ou uma pessoa nascer fêmea, se identificar como feminina e gostar do sexo oposto.

As organizações são quase infindas, principalmente se considerarmos que existem mais possibilidades do que as que eu citei aqui.


Atenciosamente, Cayo César dos Santos Gomes.


Recife, 18 de fevereiro de 2013

Que a paz esteja conosco.