sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Silencio dos Inocentes

- Você gostariade me analisar, policial Starling. Você é muito ambiciosa, não é? Sabe o que você me parece, com sua bela bolsa e seus sapatos baratos? Parece uma caipira. Uma caipira melhorada, limpa, com um pouco de bom gosto. Seus olhos são como pedras baratas do mês - tudo é brilho superficial quando você consegue uma pequena resposta. E por trás delas você é brilhante, não é? Desespera-se para não ser como sua mãe. Uma boa nutrição deu-lhe ossos mais longos, mas você não está fora das minas há mais de uma geração, policial Starling. Você é dos.Starlings de West Virgínia ou de Oklahoma? Houve uma decisão de cara-oucoroa entre a universidade e o Corpo Feminino do Exército, não houve? Vou lhe dizer algo específico sobre você mesma, estudante Starling. No seu quarto você tem um colar de ouro de contas soltas, e sente um choquezinho desagradável quando vê como agora se tornaram sem graça, não é verdade? Tantos cansativos agradecimentos vida afora, tantas mesuras e hesitações, banalizando cada uma daquelas contas. Cansativo. Cansativo. Te-eedioso. Ser inteligente estraga uma porção de coisas, não é verdade? E ter bom gosto não é bom. Quando você pensar sobre esta conversa, vai se lembrar do estúpido animal ferido no rosto quando você se livrou dele. - E no mais suave dos tons, o Dr. Lecter acrescentou: - Se o colar de contasse tornou sem graça, o que mais perderá a graça no curso da sua vida? Você cisma com isso, não é, durante a noite? 

Starling levantou a cabeça para encará-lo.

- O senhor enxerga longe, Dr. Lecter. Não nego nada do que acabou de dizer. Mas eis uma pergunta que está me respondendo agora mesmo, quer queira quer não: O senhor tem energia suficiente para voltar essa sua percepção de alta potência em direção a si?

Thomas Harris, Silencio dos Inocentes.